História

Argentina - Percorrendo o País

Era pré-colombina

A área conhecida atualmente como a Argentina era relativamente pouco povoada até o período da colonização europeia. Os primeiros vestígios de vida humana são datados do período Paleolítico e há indícios adicionais dos períodos Mesolítico e Neolítico. No entanto, grandes áreas do interior eram aparentemente despovoadas durante um extenso período de secas entre 4000 e 2000 a.C.

Até o período da colonização européia, a Argentina era relativamente pouco povoada por um grande número de culturas diversas com organizações sociais diferentes, que podem ser divididas em três grupos principais. O primeiro grupo são caçadores e coletores de alimentos sem desenvolvimento de cerâmica, como os povos selknam e yaghan. O segundo grupo são os caçadores avançados e os coletores de alimento que incluem os puelche, querandí e serranos no centro-leste; e os tehuelche no sul – todos eles conquistados pelos mapuches que se espalham do Chile – e o kom e wichi no norte. O último grupo são os agricultores com cerâmica, como os charruas, minuanos e guaranis no nordeste, com práticas de queimadas e existência semissedentária; a avançada cultura diaguita comercializava no noroeste, que foi conquistado pelo Império Inca em torno de 1480; os toconotés e comechingones vivam no centro do país e os huarpes, uma cultura que criava lhamas e foi fortemente influenciada pelos incas, no centro-oeste.

Período colonial

Os europeus chegaram pela primeira vez à região com a viagem de 1502 de Américo Vespúcio. Os navegadores espanhóis Juan Díaz de Solís e Sebastian Cabot visitaram o território que hoje é a Argentina em 1516 e 1526, respectivamente. Em 1536 Pedro de Mendoza fundou o pequeno povoado de Buenos Aires, que foi abandonado em 1541.

Outros esforços de colonização vieram do Paraguai — estabelecendo o Governadorado do Rio da Prata — Peru e Chile. Francisco de Aguirre fundou Santiago del Estero em 1553. Londres foi fundada em 1558; Mendoza, em 1561; San Juan, em 1562; San Miguel de Tucumán, em 1565. Juan de Garay fundou Santa Fé em 1573 e no mesmo ano Jerónimo Luis de Cabrera criou Córdoba. Garay foi mais para o sul para refundar Buenos Aires em 1580. San Luis foi estabelecida em 1596.

O Império Espanhol subordinou o potencial econômico do território argentino à riqueza imediata das minas de ouro e prata na Bolívia e no Peru e, como tal, tornou-se parte do Vice-Reino do Peru até a criação do Vice-Reino do Rio da Prata em 1776, com Buenos Aires como sua capital.

Buenos Aires repeliu duas invasões britânicas malfadadas em 1806 e 1807. As ideias do Iluminismo e o exemplo das primeiras Revoluções Atlânticas geraram críticas à monarquia absolutista que governava o país. Como no resto da América espanhola, a queda de Fernando VII durante a Guerra Peninsular criou grande preocupação.

Independência e guerras civis

Ao iniciar o processo de emersão da Argentina como o Estado sucessor ao Vice-Reino do Rio da Prata, a Revolução de Maio de 1810 substituiu o vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros pela Primeira Junta, um novo governo em Buenos Aires composto por habitantes locais. Nos primeiros confrontos da Guerra da Independência, a Junta esmagou uma contra-revolução em Córdoba, mas não conseguiu superar as da Banda Oriental (atual Uruguai), do Alto Peru (atual Bolívia) e do Paraguai, que mais tarde se tornaram Estados independentes.

Os revolucionários se dividiram em dois grupos antagonistas: os centralistas e os federalistas – uma divisão que definiria as primeiras décadas de independência da Argentina. A Assembleia do ano XIII nomeou Gervasio Antonio de Posadas como primeiro Diretor Supremo das Províncias Unidas do Rio da Prata.

Em 1816 o Congresso de Tucumán formalizou a Declaração de Independência. Um ano depois, o general Martín Miguel de Güemes parou os defensores da coroa espanhola no norte e o general José de San Martín tomou um exército através dos Andes e garantiu a independência do Chile; então conduziu a luta à fortaleza espanhola de Lima e proclamou a independência do Peru. Em 1819, Buenos Aires decretou uma constituição centralista que fosse substituída pela federalista.

A Batalha de Cepeda de 1820, travada entre os centralistas e os federalistas, resultou no fim do governo do Diretor Supremo. Em 1826, Buenos Aires promulgou outra constituição centralista, com Bernardino Rivadavia sendo nomeado como o primeiro presidente do país. Entretanto, as províncias do interior se opuseram a ele, forçaram sua renúncia e rejeitaram a constituição. Centralistas e Federalistas retomaram a guerra civil; este último grupo prevaleceu e formou a Confederação Argentina em 1831, liderada por Juan Manuel de Rosas. Durante seu regime ele enfrentou um bloqueio naval francês (1838-1840), a Guerra da Confederação (1836-1839) e um bloqueio anglo-francês (1845-1850), mas manteve-se invicto e impediu a perda de território nacional. Suas políticas de restrição ao comércio, porém, irritaram as províncias do interior e, em 1852, Justo José de Urquiza, outro caudilho poderoso, o tirou do poder. Como novo presidente da Confederação, Urquiza promulgou a Constituição liberal e federal de 1853. Buenos Aires se separou, mas foi forçada a voltar para a Confederação depois de ser derrotada na Batalha de Cepeda de 1859.

Ascensão da nação moderna

Ao superar Urquiza na Batalha de Pavón em 1861, Bartolomé Mitre garantiu a predominância de Buenos Aires e foi eleito como o primeiro presidente do país reunificado. Foi seguido por Domingo Faustino Sarmiento e Nicolás Avellaneda; estas três presidências estabeleceram as bases do moderno Estado argentino.

Começando com Julio Argentino Roca em 1880, dez governos federais consecutivos enfatizaram políticas econômicas liberais. A onda maciça de imigração europeia que se seguiu – menor apenas que a dos Estados Unidos – levou a uma quase reinvenção da sociedade e da economia argentinas que, em 1908, haviam colocado o país como a sétima nação mais próspera do mundo. Impulsionada por esta onda de imigração e mortalidade decrescente, a população argentina cresceu cinco vezes e a economia 15 vezes: de 1870 a 1910 as exportações argentinas de trigo passaram de 100.000 para 2.500.000 toneladas por ano, enquanto as exportações de carne congelada aumentaram de 25.000 para 365.000 t por ano, colocando a Argentina como um dos cinco maiores exportadores mundiais. Sua rede ferroviária aumentou de 503 km para a 31.104 km. Aprimorada por um novo sistema de ensino público, obrigatório, livre e secular, a alfabetização disparou de 22% para 65%, um nível mais alto do que a maioria das nações latino-americanas atingiria até 50 anos mais tarde. Além disso, o PIB nominal do país cresceu tão rápido que, apesar do enorme influxo de imigração, a renda per capita entre 1862 e 1920 passou de 67% da dos países desenvolvidos para 100%.

Em 1865, a Argentina já era uma das 25 nações mais ricas e, em 1908, ultrapassou a Dinamarca, o Canadá e os Países Baixos para chegar ao 7º lugar, atrás da Suíça, Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos, Reino Unido e Bélgica. O rendimento per capita da Argentina era 70% superior ao da Itália, 90% superior ao da Espanha, 180% superior ao do Japão e 400% superior ao do Brasil. Apesar dessas realizações singulares, o país demorou a cumprir seus objetivos originais de industrialização: depois do forte desenvolvimento de indústrias locais na década de 1920, uma parte significativa do setor manufatureiro continuou a ser intensiva em mão-de-obra na década de 1930.

Em 1912, o presidente Roque Sáenz Peña promulgou o sufrágio universal masculino e secreto, o que permitiu que Hipólito Yrigoyen, líder da União Cívica Radical (ou UCR), ganhasse a eleição de 1916. Ele promulgou reformas sociais e econômicas e ampliou a assistência aos agricultores familiares e às pequenas empresas. A Argentina permaneceu neutra durante a Primeira Guerra Mundial. A segunda administração de Yrigoyen enfrentou uma crise econômica, influenciada pela Grande Depressão.

Década Infame

Em 1930, Yrigoyen foi expulso do poder pelos militares liderados por José Félix Uriburu. Embora a Argentina tenha permanecido entre os 15 países mais ricos até meados do século, este golpe de Estado marca o início de um declínio econômico e social constante que empurrou o país de volta ao subdesenvolvimento.

Uriburu governou por dois anos; então Agustín Pedro Justo foi eleito em uma eleição fraudulenta e assinou um tratado controverso com o Reino Unido. A Argentina permaneceu neutra durante a Segunda Guerra Mundial, uma decisão que teve pleno apoio britânico, mas foi rejeitada pelos Estados Unidos após o ataque a Pearl Harbor. Um novo golpe militar derrubou o governo e a Argentina declarou guerra às Potências do Eixo um mês antes do final da Segunda Guerra Mundial na Europa. O ministro do bem-estar, Juan Domingo Perón, foi despedido e preso por causa de sua alta popularidade entre os trabalhadores. Sua libertação foi forçada por uma demonstração popular maciça, o que o levou a ganhar a eleição de 1946.

Peronismo

Perón criou um movimento político conhecido como peronismo. Ele nacionalizou indústrias e serviços estratégicos, melhorou os salários e as condições de trabalho, pagou toda a dívida externa e conseguiu quase o pleno emprego. A economia, no entanto, começou a declinar em 1950 por causa do excesso de despesas. Sua esposa altamente popular, Eva Perón, tinha um papel político central. Ela incentivou o congresso para decretar o sufrágio universal das mulheres em 1947 e desenvolveu uma assistência social sem precedentes aos setores mais vulneráveis da sociedade. No entanto, sua saúde declinante não lhe permitiu concorrer à vice-presidência em 1951 e ela morreu de câncer no ano seguinte. Perón foi reeleito em 1951, superando inclusive sua performance de 1946. Em 1955, a Marinha Argentina bombardeou a Praça de Maio numa tentativa de matar o Presidente. Poucos meses depois, durante o autochamado golpe da Revolução Libertadora, ele renunciou e entrou em exílio na Espanha.

O novo chefe de Estado, Pedro Eugenio Aramburu, proscreveu o peronismo e proibiu todas as suas manifestações; no entanto, os peronistas se mantiveram subterrâneos. Arturo Frondizi da UCR ganhou as eleições seguintes. Ele incentivou o investimento para alcançar a autossuficiência energética e industrial, reverteu um déficit comercial crônico e acabou com a proibição ao peronismo; contudo seus esforços em manter boas relações com peronistas e militares lhe trouxe rejeição de ambos os grupos e um novo golpe de Estado o tirou do poder. Mas o chefe do Senado, José María Guido, reagiu rapidamente e aplicou a legislação contra o vácuo contra o poder, tornando-se presidente; as eleições foram revogadas e o peronismo proscrito novamente. Arturo Illia foi eleito em 1963 e levou a um aumento geral da prosperidade; no entanto suas tentativas de legalizar o peronismo resultaram em sua derrota em 1966 pelo golpe de Estado liderado por Juan Carlos Onganía chamado Revolução Argentina, um novo governo militar que procurou governar indefinidamente.

Regime militar

José María Guido em seguida foi substituído por uma Junta de Comandantes. Em 1982, durante a presidência de Leopoldo Galtieri, iniciou-se a Guerra das Malvinas contra o Reino Unido, disputando-se a soberania das ilhas.

O absoluto fracasso das tropas argentinas e a morte de aproximadamente 600 jovens soldados propulsionou o golpe definitivo ao regime militar. Com a volta da democracia em 10 de dezembro de 1983, estimou-se que o número de vítimas do governo era de cerca de 10 mil pessoas.

A marca mais profunda das ditaduras foi a repressão sobre setores específicos da sociedade, especialmente os elementos politicamente mais ativos, como jornalistas e sindicalistas.

O país se encontrou num caos político posteriormente à morte de Perón. Grupos extremistas realizavam sequestros e assassinatos, levando a sociedade a um terror poucas vezes visto no país. Nesta situação surge o autodenominado Processo de Reorganização Nacional, presidido originalmente por Jorge Rafael Videla, que se caracterizou por acentuada repressão, levando a cabo constantes perseguições, torturas e execuções de presos políticos. Assim como os outros países do Cone Sul, o governo argentino integrou a Operação Condor.

A administração de Videla foi marcada por violações sistemáticas aos direitos humanos, principalmente nos meios estudantis, além de questões de limites de fronteira com o Chile, que estiveram próximas de um conflito armado — matéria diplomaticamente mediada por João Paulo II.

Houve também desmantelamento dos sindicatos e polarização na divisão de classes sociais. A economia do país, porém, cresceu, tornando-se mais competitiva e moderna, adaptando-se às correntes mundiais. Houve também um grande incremento nas obras públicas.

Período contemporâneo

A derrota na Guerra das Malvinas obrigou o regime militar a convocar eleições democráticas. Contudo, as violações maciças aos direitos humanos realizadas entre 1976 e 1983, assim como uma ampla tradição em golpes militares, fizeram complexo o processo de transição à democracia, com reiteradas insurreições militares. Em 1989, pela primeira vez na história, um presidente de um partido entregou o poder a um presidente de outro partido. A situação voltou a se repetir em 1999, mostrando uma notável consolidação da democracia na Argentina. O presidente Fernando de la Rúa herdou uma competitividade diminuída das exportações, bem como déficits fiscais crônicos. A coalizão governista desenvolveu fendas, e o retorno de Domingo Cavallo ao Ministério da Economia foi interpretado como um movimento de crise dos especuladores. A decisão de Cavallo falhou e acabou por ser forçado a tomar medidas para pôr fim a uma onda de fuga de capitais e para conter a crise da dívida iminente (que culminou com o congelamento de contas bancárias). Um clima de descontentamento popular se seguiu, e em 20 de dezembro de 2001 a Argentina mergulhou em sua pior crise institucional e econômica desde 1890. Houve violentos protestos de rua, que entraram em confronto com policiais e resultaram em várias mortes. O clima cada vez mais caótico, em meio a tumultos acompanhados por gritos de que “todos devem ir”, finalmente resultou na renúncia do presidente de la Rúa.

Três presidentes seguiram em rápida sucessão, durante duas semanas, que culminou na nomeação do presidente interino Eduardo Duhalde pela Assembleia Legislativa em 2 de janeiro de 2002. A Argentina fez uma moratória de sua dívida internacional, e a ligação do peso argentino com o dólar foi rescindida, causando uma maior depreciação do peso e um aumento da inflação. Duhalde, um peronista com uma posição de centro-esquerda econômica, teve que lidar com uma crise financeira e sócioeconômica, com uma taxa de desemprego de 25% no fim de 2002 e com o menor salário real em sessenta anos. A crise acentuou a desconfiança do povo nos políticos e nas instituições. Depois de um ano abalado por protestos, a economia começou a se estabilizar no final de 2002, e as restrições sobre as retiradas bancárias foram suspensas em dezembro.

Beneficiando-se de uma taxa de câmbio desvalorizada o governo implementou novas políticas com base em re-industrialização e substituição de importações, e as exportações aumentaram e começaram a ter consistentes superávits comerciais e fiscais. O governador Néstor Kirchner, um peronista social democrata, foi eleito em Maio de 2003. Durante a presidência de Kirchner a Argentina reestruturou sua dívida em falta com um grande desconto (66%) na maioria dos títulos, pagou as dívidas com o Fundo Monetário Internacional, renegociou contratos com concessionárias e nacionalizou algumas empresas anteriormente privatizadas. Kirchner e seus economistas, nomeadamente Roberto Lavagna, também prosseguiram com uma política de rendimentos e vigoroso investimento em obras públicas.

Argentina desde então tem se aproveitado de um crescimento econômico, mas com inflação alta. Néstor Kirchner executou a campanha de 2007 em favor de sua esposa, a senadora Cristina Fernández de Kirchner. Ela se tornou a primeira mulher eleita presidente da Argentina e, em um resultado polêmico, Fabiana Ríos, uma candidata de centro-esquerda na Província de Tierra del Fuego, tornou-se a primeira mulher na história argentina a ser eleita governadora. A presidente Cristina Kirchner, apesar de ter grande maioria no Congresso, viu um controverso plano para o aumento dos impostos às exportações agrícolas derrotado pelo surpreendente voto do vice-presidente Julio Cobos, após grandes protestos e bloqueios agrários de março a julho. A crise financeira global, desde então, fez com que Cristina Kirchner intensificasse a política de seu marido de intervenção do Estado em setores conturbados da economia. A pausa no crescimento econômico e erros políticos ajudaram a levar kirchnerismo e seus aliados a perderem a maioria absoluta no Congresso, após as eleições de 2009. Cristina Kirchner foi reeleita em 2011. Conquistou mais de 53% dos votos, o melhor desempenho de um candidato desde a redemocratização argentina. Kirchner é a primeira mulher reeleita presidente na América Latina. Em novembro de 2015, Maurício Macri foi eleito o 56º presidente do país, pondo fim a doze anos de kirchnerismo.